Os ensinamentos do percurso sinodal vivido em Santa Isabel, a resposta da Igreja em Portugal à catástrofe dos abusos sexuais, a urgência de decisões coletivas e individuais de resposta ao desafio da ecologia integral e as expectativas positivas apontadas nas sínteses do caminho sinodal de vários grupos forem os temas centrais dos quatro encontros Encontros de Santa Isabel deste ano.
Os encontros sob o tema genérico “Discípulos de Jesus no tempo presente” decorreram no Auditório da Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa e no primeiro, dedicado à Jornada Mundial da Juventude de 2023 (JMJ 2023) e à caminhada sinodal realizada na Igreja de Santa Isabel, foi possível cruzar testemunhos da participação no processo do Sínodo com o entusiasmo da perspectiva sobre o que trará a JMJ 2023.
Inês Costa Pereira, porta-voz da equipa dinamizadora do Sínodo na Paróquia, Helena Skapinakis e Manuel Câmara Pestana, participantes do Sínodo, sublinharam quanto a reflexão e os encontros do Sínodo têm facilitado o despertar para uma presença mais activa na Paróquia. Teresa Byrne, responsável pela JMJ 2023 em Santa Isabel, e Inês Oliveira e António Mota Capitão, voluntários da Jornada, exprimiram o seu entusiasmo no facto de a preparação da Jornada ter-se revelado uma construção em conjunto, dinâmica que é, em si, um bem a valorizar.
Atitude eclesial mudou
O longo silêncio da Igreja católica em Portugal sobre os abusos sexuais, a sua prolongada atitude de negação durante quase três décadas foi um dos pontos principais da intervenção de João Francisco Gomes, jornalista do Observador e convidado do segundo dos Encontros de Santa Isabel deste ano. O orador reconheceu que, nos últimos anos, a atitude eclesial começou a mudar neste capítulo, mantendo, embora, uma atitude muito defensiva em relação aos media, não aceitando com facilidade o escrutínio que estes sobre ela devem realizar de forma continuada.
Sónia Simões, jornalista do Observador também convidada a intervir neste encontro sobre os abusos na Igreja, apresentou as diferenças entre as disposições constantes na legislação portuguesa e no direito canónico sobre o tema dos abusos sexuais e criticou o facto da Igreja Católica desenvolver investigações próprias sobre denúncias recebidas em vez de as entregar às instituições competentes dos Estados: ministério público e polícia judiciária.
Mais de quatro dezenas de pessoas participaram no encontro, tendo o debate que se seguiu às intervenções iniciais focado aspetos como o cariz quase sempre negativo das notícias sobre a Igreja Católica, a omnipresença do tema dos abusos na Igreja entre os jovens que se pretende mobilizar para a Jornada Mundial da Juventude de agosto e a permanência do modelo clericalista na Igreja católica, apesar do clericalismo ser por todos apontado como razão sistémica e principal dos abusos sexuais.
A Casa Comum e a reforma da Igreja
Francisco Ferreira, da associação Zero, Margarida Machado Gil e Margarida Mateus, autoras do capítulo “Ética e ambiente” do livro “Temas de Ética – Reflexões e Desafios” chamaram a atenção para o papel que cabe a cada habitante do planeta na defesa da ecologia integral. Papel que não se deve limitar a pressionar as macro decisões de governos e organizações, mas deve influenciar as opções de cada um no seu dia-a-dia.
Nas suas intervenções no terceiro dos Encontros de Santa Isabel, sublinharam a unanimidade da comunidade científica quanto ao facto de as alterações climáticas serem uma realidade que coloca grandes desafios ambientais e, consequentemente, económicos e sociais. A ecologia integral, conceito proposto pelo Papa Francisco na Laudato si’, é – consideraram os participantes – uma resposta positiva para a preservação do planeta na medida em que nos desafia a usarmos a Casa Comum reconhecendo que tudo está ligado e escolhendo um modo de vida atento e de cuidado com o que nos rodeia.
Alfredo Teixeira, falando sobre “Como ler os dados do Sínodo” durante o quarto dos Encontros de Santa Isabel, confessou a sua esperança de ver “refluir sobre o edifício global da Igreja” o conjunto das intenções positivas que a análise das sínteses dos grupos sinodais mostram.
Através do atual Sínodo, e entre outras mudanças apontadas nas referidas sínteses como necessárias, Alfredo Teixeira espera que o Papa Francisco venha a propor uma reforma no sentido de a Igreja “deixar de operar numa geografia física para passar a trabalhar na atenção à geografia humana” de cada realidade.