Leonor Cardoso, 67 anos, economista, divorciada, mãe de um filho, avó de dois netos, reformada, secretária do Conselho Pastoral da Paróquia de Santa Isabel, não tem dúvidas de que Santa Isabel tem muitas características de uma comunidade sinodal, em termos de abertura, acolhimento e participação. Mas deseja ver “um maior envolvimento das pessoas na paróquia”. E espera que este Sínodo ajude a Igreja portuguesa a ser menos clerical, a permitir que “todos os leigos tenham responsabilidades na condução do que acontece na Igreja”. Caminhar juntos é um desafio para que a Igreja seja “mais acolhedora de todos, por exemplo, dos divorciados recasados, ou dos homossexuais”.
Há muitos anos que estás envolvida na paróquia. Pensando nos últimos cinco anos, que mudanças mais significativas notas em Santa Isabel?
Não é fácil dizer… Se calhar não sou a melhor pessoa para responder a essa pergunta. Ando tão envolvida no dia-a-dia que tenho dificuldade de responder (…)
Bem, mudou o teto da igreja…
Sim, essa parte é mais evidente. Mas isso é outra coisa, não era o que me perguntavas. Do ponto de vista do seu interior, a Igreja de Santa Isabel mudou radicalmente nestes cinco anos. Foi mesmo há cinco anos, foi em 2016. E vamos continuar a mudar, pois ainda há obras de restauro para terminar. Mas não é isso que queres saber… Não que estes trabalhos não sejam importantes. Primeiro, porque temos de saber preservar um património que é de todos nós. E depois, porque a beleza faz parte da vida, das celebrações e da conversa sobre Deus. De outro ponto de vista, eu estou tão envolvida em tanta cosias que tenho dificuldade em ver o que mudou. Será mais fácil outras pessoas verem essas mudanças. Pensado bem… Algo que mudou muito nestes últimos anos foi o número de pessoas que chegam a Santa Isabel vindas “de fora”. “De fora” geograficamente falando – cristãos que moram noutras freguesias – e “de fora” da Igreja, incluindo pessoas que veem pedir o batismo. Na Vigília Pascal de 2019 foram batizados sete adultos. Para o que é costume, é imenso. Isso foi, de certeza, algo que mudou.
Estamos a participar num Sínodo que tem por tema a sinodalidade. Achas que a comunidade de Santa Isabel pode ser vista como uma comunidade sinodal?
Acho que sim. Acho mesmo que sim. Não tenho dúvidas de que a maior parte dos grupos se preocupam em acolher o outro. Penso que Santa Isabel é uma Igreja que sabe acolher. A começar pelo Pároco que conta mesmo connosco e que genuinamente deseja que as pessoas se envolvam cada vez mais na vida da paróquia. Somos uma comunidade aberta a criar espaço para que não crentes participem na ação social que desenvolvemos. Somos abertos para acolher refugiados. Sinto que somos uma comunidade com características para continuar a fazer caminho junto com todas as idades, com pessoas de todas as proveniências, com meninos de fora, com deficientes… sim, acho que é isto que é pedido a esta Igreja: que caminhemos todos juntos.
Que esperas, então, deste Sínodo?
Espero que as pessoas que por algum comodismo, por acharem que as coisas estão bem, ou porque se sentem bem, não deixem de participar e se habituem a dizer o que lhes falta, o que nos faz falta. Podem querer coisas que, se não as verbalizam, ninguém vai poder imaginar. O que eu gostava de ver era uma Igreja a caminho com todos, com mais. Há pouco, quando falei de acolhimento, esqueci-me de referir a atenção que damos ao acolhimento de casais de divorciados recasados, através, entre outros, do grupo que acompanha aqueles casais que o desejam. O que desejo é um maior envolvimento das pessoas na paróquia… em tantas coisas… desde as pequenas às maiores. Até naquelas que existem para as pessoas as usufruírem, como, por exemplo, os concertos que têm lugar na Igreja. Talvez a participação das pessoas esteja mais dificultada pelo facto de muitas das que frequentam a paróquia serem de fora da freguesia e a distância não favorece a participação.
E que impacte esperas que este Sínodo tenha na Igreja portuguesa?
Desejo que a torne menos clerical. Em Portugal a Igreja é muito, muito clerical.
Que queres dizer com “menos clerical”??
Quero dizer que desejo que todos os leigos tenham responsabilidades na condução do que acontece na Igreja. Nós cristãos somos pessoas responsáveis, livres e conscientes e, por isso, acho que todos temos uma palavra a dizer sobre a vida da Igreja. O clero devia ouvir-nos mais vezes. É o que acontece em Santa Isabel. Aqui vivemos num certo “oásis”, face ao que se pratica na Igreja em Portugal e mesmo em Lisboa. O Sínodo aponta para que todos possamos ter alguma voz. E também para que sejamos uma Igreja mais acolhedora. Por exemplo com os divorciados recasados. Ou com os homossexuais. Se queremos realmente caminhar juntos, isto é para todos, não podemos deixar de fora quem quer que seja, por causa das suas condições particulares, sejam elas de que ordem forem. Tenho esperança nisso. E também tenho alguma expectativa nos resultados do Sínodo.